segunda-feira, 28 de março de 2011

Quaresma: Sepultados e ressuscitados com Cristo

Por Diácono Marcos Sabater
Licenciado em Jornalismo


3º Domingo: O chamado à conversão




A Quaresma é um tempo fortemente marcado pelo caráter catecumenal, já que é o período específico para preparar àqueles que desejam fazer-se parte da Igreja pelas águas do batismo na Páscoa. Nesse sentido, o evangelho deste terceiro domingo da Quaresma (Jo 4,5-42) está ligado ao primeiro quesito do rito batismal: ‘Que pedes à Igreja de Deus?’ – ‘O batismo’.

A samaritana é figura do catecúmeno iluminado e convertido pela fé que deseja a água viva e é purificado pela palavra e pela ação do Senhor. Também nós somos questionados sobre o sentido da nossa vida cristã. Assim como acontece com a samaritana, Jesus se encontra com cada um de nós porque quer levar-nos à fé por meio do encontro pessoal com ele. Para isso se aproxima de nós quebrando as nossas barreiras.

Os discípulos ficam surpreendidos de verem seu mestre falando com uma mulher publicamente e, além do mais, com uma samaritana. Ela inicia um caminho de conversão da mão do próprio Jesus: “Quem é ele? Como sabe tudo sobre a minha vida? Qual é essa água que nunca acaba?” Esta mulher teve cinco maridos, mas nenhum deles era realmente o seu marido. O número cinco se refere aqui aos cinco falsos deuses trazidos séculos atrás pelo rei da Assíria para colonizar aquela região da Samaria. A impureza tornava a vida desta mulher insuportável para ela mesma e para os seus compatriotas.

 Ainda hoje muitos são os ídolos que não saciam a existência de milhões de pessoas, tais como o sexo, a magia, o apego ao dinheiro, o afã de poder, a droga... Todos eles não são maridos porque, de fato, não saciam os anseios desta mulher. Por isso a samaritana é imagem de todos nós.

Esta é a mesma experiência que o povo de Israel vive no deserto quando, libertado da escravidão do Egito indo de caminho para a terra prometida, murmura contra Deus porque não aceita que um Outro acima dele decida suas ações (Ex 17,3-7). O grande pecado de Israel consiste em desconfiar de Deus, em duvidar da presença de Dele nos acontecimentos que pontilham a nossa história, em pensar mal de Deus, acreditar que Ele não é amor. A Israel não lhe faltava água, porque diz uma tradição rabínica que uma fonte de água acompanhava os israelitas pelo deserto. Israel quer a água agora porque desconfia do Senhor.

O risco de todos nós é o mesmo que tiveram os israelitas no deserto: praticar uma religiosidade não autêntica, não procurar em Deus a resposta às nossas expectativas mais íntimas, usá-Lo como se estivesse ao serviço dos nossos projetos. Por isso diz o Evangelho que a água de Jesus Cristo é superior à água do poço de Jacó, poço que garantiu a sobrevivência do clã do patriarca e da sua descendência como nômades em Canaã.

Aqui há algo muito mais profundo que gestos e palavras. Durante o diálogo de Cristo com esta mulher, ela vai conhecendo-o até que, por fim, professa a sua fé: só Ele lhe pode dar essa água que conduz para a Vida Eterna, isto é, o dom do Espírito Santo, a esperança da salvação, a resposta aos anseios de felicidade eterna que todos nós alimentamos.

A samaritana encontrou a esperança que não decepciona (Rm 5,1-2.5-8). Uma vez amada sem olhar de condenação e perdoada, uma vez vivenciado o amor incondicional do Pai manifestado no sacrifício que fez do seu próprio Filho, a sua confiança em Deus é restabelecida. Quem vive unido a Cristo, recebe dele todos os dons do Espírito Santo, pois Ele é a fonte de todo bem. Isso não significa que a fé nos tira os sofrimentos ou nos protege dos perigos deste mundo, mas sim nos dá a certeza de que somos filhos amados de Deus, de que ele nos quer só para si.

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