quarta-feira, 13 de abril de 2011

Quaresma. Sepultados e ressuscitados com Cristo

Por Diácono Marcos Sabater
Licenciado em Jornalismo

5º Domingo: A nova criação

Neste último domingo de Quaresma, a Igreja contempla o mistério da nova criação renascida das águas do batismo. Vimos nos dois domingos anteriores que Jesus dava a água viva que pula até a vida eterna aos que se aproximam d’Ele e, logo depois, que ilumina e dá sentido à existência de cada um de nós. É por isso que a água no evangelho da Samaritana e a luz no trecho do cego de nascença constituem dois elementos essenciais na liturgia batismal que acontece na noite da Páscoa.

O discípulo João descobre para nós, no seu evangelho da ressurreição de Lázaro (11,1-45), a terceira grande catequese batismal com a qual a Igreja instrui aos catecúmenos. Na Páscoa eles receberão as águas vivificantes e passarão da morte à vida: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá eternamente. O clamor de Cristo: Lázaro, vem para fora! encontra ressonância na criação de Adão e Eva: Homem e mulher os criou – E viu que isto era muito bom, mas neste momento culminante da história, estas palavras do Senhor revelam plenamente o significado até agora oculto da expressão “à imagem e semelhança de Deus”.

A profunda emoção de Jesus perante o amigo morto e a oração confiada que dirige ao seu Pai demonstram perfeitamente a sua humanidade e o alcance da sua missão. O Autor da vida lhe confiou o poder de dar a vida. Cristo realiza obras portentosas unindo e aderindo a sua consciência pessoal à vontade do Pai com total confiança de que vai ser ouvido por Ele.

Com a nova criação gerada no batismo, ficou restaurada a obra originária que Deus queria para o homem e a criação. A doença e a morte já não têm a última palavra. Jesus Cristo é a Luz que ilumina as trevas que há dentro do homem, é Aquele que desperta a Adão e aos seus filhos do sono da morte. A ressurreição de Lázaro é o sinal de que Deus ama e se importa pelo homem, dando-lhe o seu Espírito para libertá-lo da lei do pecado e da morte, e capacitá-lo para viver a vida divina de filho (Rm 8,8-11).

Jesus Cristo é a Ressurreição porque Ele possui a vida em plenitude em si mesmo. Portanto, a vida nova à qual nós aspiramos e que Deus nos quer dar não é a vida presente, corrigida, melhorada e aumentada, é a vida mesma de Deus, participando dela na medida em que temos a capacidade para fazê-lo. Desse modo, o Senhor antecipa o último dia. Os nossos tempos já entraram na consumação da história e se encaminham para o fim da existência terrena. Quem acolhe a sua palavra, passou já da morte à vida.

Aceitar e entrar na morte significa entrar naquilo que se refere à nossa realidade. Para aquele que vive enganado achando que a morte extermina aquilo que temos de mais valor, a morte arrebata o sentido da existência presente e lhe faz buscar artefatos que preencham o vazio deixado pela ausência do amor verdadeiro e eterno. A experiência de Israel no exílio descrita pelo profeta Ezequiel (37,12-14) ficou marcada pela esperança e a consolação do retorno à terra prometida, mas também pelo desalento perante o desconhecido: o que encontrariam na terra dos seus pais passados tantos anos? Os israelitas, nesta situação, se encontravam “ressequidos”, angustiados, sem forças. A palavra de Deus por boca do profeta não se faz esperar: Porei em vós o meu espírito para que vivais.

Por isso, o realmente importante é a fé pela qual o homem vive já na eternidade de Deus. O encontro com Cristo exige a decisão da fé, isto é, a opção pela vida no espírito. O presente e o futuro do homem dependem disso. A graça da vida “em” Cristo absorve o rigor do juízo. A união com Jesus garante a vida, a pesar do trance necessário da morte. “Se o homem se priva da luz da fé, o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança”, diz Bento XVI.

Todos nós teremos que passar pela morte. Aquele que permanecer unido a Cristo não ficará sepultado nela: “Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (11,27). A morte, no seu aspecto de fim–destruição–aniquilação, foi superada pela vida. Deus, que é vida, não pode abandonar àqueles que lhe pertencem no momento supremo da morte; fará com que participem da sua vida; os introduzirá no seu reino de alegria, gozo e amor.

Ressuscitar não é ‘voltar’ a viver, mas ‘ir’ para a vida, avançar direcionado à meta final. Morrer consiste em afrontar a eternidade e abrir as portas da imortalidade. Isso é o que Jesus Cristo fez com Lázaro: antecipou a sua morte e ressurreição no amigo querido –diz S. Pedro Crisólogo– para que, com ele já no sepulcro, a fé dos discípulos e de cada um de nós não acabasse sepultada, mas ressuscitasse.

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