Diácono Marcos Sabater
Paróquia Santa Maria dos Pobres
Jornalista (Rádio Maria e Arquidiocese de Brasília)
Prestes a celebrarmos a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo no próximo dia 23 de junho, todos nós, católicos de Brasília, somos chamados a vivermos esta celebração sendo coerentes com a nossa fé. É na quinta-feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade quando a Igreja festeja com alegria a presença real de Jesus Cristo na sua totalidade sob as espécies eucarísticas do pão e do vinho.
Para remontar-nos às origens desta festa devemos viajar até o século XIII, momento em que a Igreja sentiu a necessidade de realçar a presença real do Cristo todo no pão e no vinho consagrado para responder à heresia do catarismo. Para os cátaros, o pão era simplesmente pão porque negavam todas as conseqüências da Encarnação do Verbo de Deus, inclusive o valor infinito de todos os atos de Cristo e, desse modo, a instituição divina do sacramento da Eucaristia.
A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo papa Urbano IV com a Bula Transiturus (1264). A tradição da procissão, que surgiu em Colônia, se propagou pelas Igrejas da Europa, primeiro na Alemanha, depois na França e na Itália. Em Roma, no ano 1350.
Mas o porquê teológico desta venerável celebração? A Santíssima Trindade, na sua divina providencia e criatividade, dispôs da história para restaurar e salvar a todos nós do pecado, da morte, do inferno e do demônio. E para isso o Pai, que é o Amor, enviou o seu Filho encarnado ao mundo para executar tal plano de salvação. Com a finalidade de encarnar-se, Deus iniciou uma maravilhosa caminhada de fé com Israel, o povo eleito, mil e duzentos anos antes.
Moisés, ao receber de Deus a renovação da Aliança (cf. Ex 34,4b-6.8-9), ele manifesta o anseio real dos israelitas e, no fundo, de todo homem: “Senhor, continua conosco mesmo que este povo seja de cerviz dura. Perdoa as nossas faltas e os nossos pecados, e toma-nos por tua herança”. Com a paixão e morte do Verbo encarnado (Sexta-feira da Paixão), sua ressurreição (Domingo de Ressurreição), sua glorificação (Domingo da Ascensão) e o envio do Espírito Santo à Igreja (Domingo de Pentecostes), Deus nos perdoou para sempre os nossos pecados, expiou completamente as nossas culpas e nos deu o seu Espírito para inserir-nos na vida amorosa da família divina.
Este Deus misterioso se fez próximo e conhecido em Jesus Cristo. No Antigo Testamento, a glória de Deus está presente na Tenda da reunião (cf. Ex 33,7-11) e, logo, no Templo de Jerusalém (cf. 1 Rs 8,10-13), e ainda no próprio povo eleito quando retorna do exílio (cf. Ez 43, 4-5). Mas em Jesus Cristo, o único Deus que existe e que dá a vida permanece conosco para sempre e nos acompanha nos acontecimentos da nossa vida, também na morte.
Instituindo o sacramento da Eucaristia na última ceia, Deus ficou conosco através do Corpo e do Sangue do seu Filho. Nesse sentido, São João Crisóstomo dirá: “Inclinemo-nos sempre diante de Deus sem o contradizermos, embora o que Ele diz possa parecer contrário à nossa razão e à nossa inteligência; sobre a nossa razão e a nossa inteligência, prevaleça a sua palavra. Assim nos comportemos também diante do mistério (eucarístico), não considerando só o que nos pode vir dos nossos sentidos, mas conservando-nos fiéis às suas palavras. Uma palavra sua não pode enganar” (In Matth. hom. 8, 4; PG 58, 473).
À diferença dos outros sacramentos (batismo, crisma, reconciliação, unção dos enfermos, matrimonio e ordem sagrada), Cristo está presente de modo total no seu Corpo e no seu Sangue (isto é: em alma, corpo e divindade, como homem e como Deus). Nos outros sacramentos só estão presentes as virtudes e os benefícios da pessoa de Cristo. É por isso que todos os sacramentos se subordinam à Eucaristia, porque ela é o centro e o termo de toda a vida sacramental, inserindo-nos no corpo de Cristo como discípulos missionários.
A festa do Corpus Christi é a vivência que os cristãos têm da Eucaristia como culminação dos demais sacramentos, porque nela comungamos com Cristo participando da sua carne e da sua divindade, unindo-nos mutuamente. O pão e o vinho são o corpo ressuscitado e glorioso de Jesus Cristo, o qual possui e comunica o Espírito Santo àqueles que o comem e o bebem: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos morada” (Jo 14, 23). E qual é a sua palavra? “Quem come minha carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54).
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