quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Redescoberta da Importância de Deus

Pe. André Lima
Superintendente do Sistema Nova Aliança de Comunicação





Prezado leitor, para encerrar este ciclo de meditações sobre a oração a partir das audiências do Papa Bento, ele nos leva a refletirmos sobre uma das características do homem: a religiosidade.
Quando observamos o nosso tempo, ele é marcado pelo secularismo. Segundo Sua Santidade, Deus parece ter desaparecido do horizonte de várias pessoas ou ter-se tornado uma realidade diante da qual o homem permanece indiferente.
Em meio a este afastamento de Deus, vê-se um despertar do sentido religioso, uma redescoberta da importância de Deus para a vida do homem, uma exigência de espiritualidade, de superar uma visão puramente horizontal, material da vida humana.
Segundo o Papa, ao olhar para a história recente, malogrou a previsão de quem, desde a época do iluminismo, preanunciava o desaparecimento das religiões e exaltava uma razão absoluta, separada da fé, uma razão que teria esmagado as trevas dos dogmatismos religiosos e dissolvido o "mundo do sagrado", restituindo ao homem a sua liberdade, a sua dignidade e a sua autonomia de Deus. 
No Catecismo da Igreja Católica há a seguinte afirmação: "pela criação, Deus chama todos os seres do nada à existência... Mesmo depois de, pelo pecado, ter perdido a semelhança com Deus, o homem continua a ser à imagem do seu criador. Conserva o desejo d’aquele que o chama à existência. Todas as religiões testemunham esta busca essencial do homem" (CIC 2566).
Segundo a seguinte constatação de que não houve qualquer grande civilização, desde os tempos mais longínquos até aos nossos dias, que não tenha sido religiosa. Isto demonstra que o homem é religioso por sua natureza, é homo religiosus como é homo sapiens homo faber: "o desejo de Deus está inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus" (CIC 27).
Para Bento XVI, a imagem do criador está impressa no seu ser, e ele sente a necessidade de encontrar uma luz para dar uma resposta às interrogações que dizem respeito ao sentido profundo da realidade; resposta que ele não pode encontrar em si mesmo, no progresso ou na ciência empírica.
homo religiosus não emerge só dos mundos antigos, mas atravessa toda a história da humanidade. A este propósito, o rico terreno da experiência humana viu surgir diversificadas formas de religiosidade, na tentativa de responder ao desejo de plenitude e de felicidade, à necessidade de salvação, à busca de sentido.
O homem da era "digital", como o das cavernas, procura na experiência religiosa os caminhos para superar a sua finitude e para assegurar a sua precária aventura terrena. De resto, a vida sem um horizonte transcendente não teria um sentido completo, e a felicidade, para a qual todos nós tendemos, está projetada espontaneamente para o futuro, para um amanhã que ainda se deve realizar.
Algo que o homem não pode apagar de seu coração é a sede de infinito, uma saudade de eternidade, uma busca de beleza, um desejo de amor, uma necessidade de luz e de verdade, que o impelem rumo ao absoluto; o homem tem em si o desejo de Deus.
Segundo são Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos da história, define a oração "expressão do desejo que o homem tem de Deus". Esta atração por Deus, que o próprio Deus colocou no homem, é a alma da oração, que depois se reveste de muitas formas e modalidades, segundo a história, o tempo, o momento, a graça e até o pecado de cada orante.
Naturalmente, quando o papa fala da oração como experiência do homem enquanto tal, do homo orans, é necessário ter presente que ela é uma atitude interior, e não só uma série de práticas e fórmulas, um modo de ser diante de Deus, e não só o cumprir gestos de culto ou o pronunciar palavras.
A oração, desta forma, tem o seu centro e afunda as suas raízes no mais profundo da pessoa; por isso não é facilmente decifrável e, pelo mesmo motivo, pode estar sujeita a mal-entendidos e a mistificações.

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