segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A Dignidade da Pessoa Humana

Por Padre André Lima
Superintendente da Rádio Nova Aliança
Assessor de Imprensa da Arquidiocese de Brasília



Algumas situações ocorreram durante esta semana e chamam a atenção quanto ao verdadeiro sentido da dignidade da pessoa humana.
Um primeiro deles foi o diálogo conturbado entre o prefeito de Manaus e uma moradora de uma área de risco naquela cidade. Ela disse ao prefeito que não poderia sair da área por não ter outra opção. O prefeito, então, respondeu: "se vai continuar aqui então morra, minha filha, morra".
Nervosismo a parte, falta de incompreensão de outra? Voltemos à centralidade da questão: são pessoas humanas que estão lotando, em todo o país, locais impróprios de moradia! Sua única opção? Falta de oportunidade? Falta de política pública para as moradias?

Estamos presenciando no norte da África um verdadeiro movimento contra governos ditatoriais que esqueceram do principal em seus países: o povo.
As pessoas que são os trabalhadores, aqueles que geram a verdadeira riqueza de um país estão esquecidos, sem emprego, sem perspectivas. O que preocupa não é lutar pelos seus direitos humanos, porém é como as autoridades se comportam.
Na Líbia calcula-se hoje mais de 600 mortos na onda de violência que afeta o país desde 15 de fevereiro e que exige o fim do regime de Kadhafi. Interessante que diante desta reivindicação, temos do outro lado, um ditador, no poder há 42 anos, que promete esmagar a revolta de forma implacável, dizendo que vai lutar até a última gota de seu sangue, ordenando ao exército e à polícia controlarem a situação no país para "capturar os ratos. Tirá-los de suas casas e acabar com eles, onde quer que estejam", segundo nos informa a AFP (Agence France Presse) Agência de Notícias Francesa.
Cercear as garantias. Cortar o acesso a internet, as mensagens de texto, e suspender os serviços, bem como proibir a imprensa, grampear os telefones e exílio dos grupos opositores dos direitos humanos internacional. Dentre a revolução na Tunísia, no Egito, a Líbia se apresenta como o percurso mais sombrio e sangrento de todos, nos diz a revista inglesa The Economist.
E a dignidade da pessoa humana, onde fica?
São questões que surgem diante deste panorama internacional: disputa de poder? Manutenção da ordem? Desemprego? Descontentamento? Liberdade de expressão?
Ao retornar ao nosso país, me chama a atenção um comunicado dos bispos do Brasil sobre o papel desempenhado pela TV no Brasil e os importantes serviços por ela prestados à sociedade.
Contudo, a CNBB lamenta que esses serviços, prestados com apurada qualidade técnica e inegável valor cultural e moral, estão sendo ofuscados por alguns programas, entre os quais os chamados reality shows, que atentam contra a dignidade de pessoa humana, tanto de seus participantes, fascinados por um prêmio em dinheiro ou por fugaz celebridade, quanto do público receptor que é a família brasileira como nos informa o Portal Canção Nova ⁄ CNBB.
Questionamos neste caso o seguinte: a dignidade da pessoa humana está submissa ao poder do dinheiro e da fama?
Prezado ouvinte, é interessante como a sociedade olha para si mesma. Não podemos esquecer que a sociedade é composta pela pessoa humana com a sua manifestação cultural, religiosa, entre outros.
Diante destes fatos aqui relatados, o que pensar? Qual a visão de mundo que o católico precisa ter para interpretar e agir nele?
A reflexão envolve assumir valores evangélicos e perceber que o homem e a mulher estão acima de qualquer disputa econômica. É preciso tratar a pessoa humana como pessoa humana e não como uma peça de engenharia e delimitar o que ela deve ou não fazer.
Unir todos estes fatos e relatá-los dá uma pequena idéia do que acontece conosco todos os dias: somos inundados de informações e não dá tempo de pensarmos, nem mesmo refletirmos sobre o que é, o que pode ser ou não.
Direito à moradia, direito a liberdade de expressão, direito à vida, direito à família, direito ao entretenimento e à informação, entre outros. Se prestarmos atenção, violamos todos estes direitos, pois a sociedade parece não saber mais o que é a pessoa humana e o pior, se esquecer de quem é o protagonista na vivência de tais direitos.
Os cristãos, iluminados pela sabedoria do evangelho, são convidados a testemunharam e lutarem para que os valores evangélicos sejam vividos e que haja a busca do bem comum e o respeito pela pessoa humana.
Por isto, sem esta perspectiva de comunhão, de comunidade, de valorização da pessoa, o nosso mundo tende a cada vez mais reduzir o papel das próprias pessoas, gerando anomalias e desequilíbrios que passam a ser as orientações da própria sociedade.

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