terça-feira, 22 de março de 2011

Quaresma: Sepultados e ressuscitados com Cristo

Por Diácono Marcos Sabater
Licenciado em Jornalismo



2º Domingo: A plenitude da Aliança



Neste momento da história, marcados pela violência das guerras e pela destruição dos desastres naturais, parece que a vida humana é insignificante perante tanto horror. A morte, o sofrimento e a dor despertam em todos nós a tristeza e a angústia, as mesmas que embargaram a alegria dos discípulos após terem escutado o anúncio da paixão e morte do Senhor.

É por isso que Mateus, na passagem da Transfiguração (17,1-9), relaciona esta teofania intimamente com o caminho iniciado por Jesus em direção para Jerusalém, onde será crucificado. Como é possível que o esperado Messias morra nas mãos dos seus próprios irmãos? Mais ainda, os discípulos estão desanimados depois de conhecer o destino que lhes espera  se querem segui-lo até o final. Os triunfalismos começam a cair por terra.
Por isso, a Transfiguração nos lábios de Mateus é uma palavra de ânimo porque nela se manifesta a glória de Jesus e se antecipa a sua vitória sobre a cruz. O rosto resplandecente como o sol e as vestes tão alvas como a luz são sinais da realidade da ressurreição. Lembremos, se não, as vestes dos anjos que nos anunciarão a ressurreição de Cristo na vigília pascal (cf. Mt 28,3).
À diferença de outras teofanias narradas no Antigo Testamento, a solidão no monte e os fenômenos extraordinários da Transfiguração se subordinam ao testemunho dado pelo mesmo Pai em favor do seu Filho. Junto a Jesus aparecem Moisés e Elias, dois personagens que a tradição judaica relacionava diretamente com a vinda do Messias. As palavras do Pai pelas quais apresentam  Jesus como seu filho foram extraídas do Salmo 2, um salmo real que cantava a entronização do novo rei como filho de Deus e que os primeiros cristãos aplicaram a Jesus para professar a fé na sua divindade e realeza.
Em Jesus Cristo chega à plenitude a comunicação que Deus faz de si mesmo na história e que iniciou com Abraão, o nosso pai na fé (Gn 12,1-4a). Por ele foram benditos todos os povos da terra graças às promessas divinas de uma terra e uma descendência. Para ver cumpridas tais promessas, Abraão tem que renunciar à sua terra de origem, à sua pátria e à casa paterna. Isso significa abandonar a paisagem que dá sentido à sua vida para tornar-se um emigrante, deixar o lugar onde nasceu para tornar-se um apátrida, ou seja, sem pátria, largando o local onde encontra tantas razões para viver e tornar-se um órfão.
O nome de Abraão será grande e as promessas feitas a ele ressoarão ao longo dos séculos, de modo especial na figura do rei Davi e nas promessas messiânicas que culminarão em Jesus Cristo. Portanto, Deus cumpre sempre aquilo que promete porque Ele é fiel. A sua promessa se identifica com a sua vontade: que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade através do anúncio do Evangelho.
A salvação trazida por Jesus Cristo é gratuita, porque é Deus quem a dá. É plena, porque Deus nos predestinou a sermos seus filhos no seu Filho Único. É última, porque o destino final do homem é a vida feliz junto a Deus. No entanto, a tudo isto nós temos acesso pela fé e pela aceitação do evangelho (2Tm 1,8b-10). A história não está regida por uma força cega e fatalista, mas por alguém que tem um projeto de amor e salvação. Esta palavra é para nós, porque o Senhor nos chama nesta Quaresma a sairmos das nossas seguranças para entrarmos nas águas do batismo e vivermos a vida celeste.
Os destinatários da teofania da Transfiguração são os discípulos que o acompanham de caminho para Jerusalém. Mas também somos todos nós que o acompanhamos por meio da oração que se nutre das Sagradas Escrituras. Que elas reforcem em nós a vontade de seguir o Senhor.




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