quarta-feira, 6 de abril de 2011

Quaresma. Sepultados e ressuscitados com Cristo

Por Diácono Marcos Sabater
Licenciado em Jornalismo

4º Domingo. A Luz do mundo

No rito da procissão da luz, quando o círio pascal faz a sua entrada solene na assembléia ao início da vigília, o sacerdote entoará as palavras: “Eis a Luz do mundo”. E todos nós responderemos: “Demos graças a Deus”. Jesus Cristo é a Luz que ilumina e dá sentido à existência do homem e da criação. O evangelho de João deste IV Domingo da Quaresma nos faz vislumbrar já o resplendor do Rei que ressuscitou vencendo todas as nossas mortes na noite da Páscoa. É por isso que este Domingo é conhecido na tradição litúrgica da Igreja como de laetare, que em latim significa “alegra-te”.

Jesus aparece em Jerusalém durante a festa dos Tabernáculos. Este festejo judaico celebrava a purificação do Templo depois do sacrilégio realizado pelo rei selêucida Antíoco IV, que mandou instalar uma estátua do deus grego Zeus no interior do local. Cada ano se fazia uma cerimônia para celebrar a saída do ídolo e a purificação do lugar sagrado, e precisamente, uno dos ritos mais impressionantes desta festa consistia na iluminação do átrio das mulheres – no Templo –, das ruas e das praças de Jerusalém.

A luz esteve sempre associada, no Antigo Testamento, à Lei e à Sabedoria, enquanto que, para os gregos, a luz simbolizava o conhecimento de Deus. O evangelho de João (9,1-41) narra o sinal da cura do cego de nascença, que é imagem e realidade daquele que inicia a sua caminhada como discípulo de Cristo. Talvez nós vejamos neste cego um coitado sofredor e desgraçado. No entanto, Deus escolhe a quem quer, sem ter em conta os méritos, para deixar bem claro que quem leva adiante a história da salvação é Ele e não os homens (1 Sam 16,1b.6-7.10-13a). Por isso, quanto mais fracos e débeis os homens, melhor vemos a obra de Deus.
Jesus aporta algo novo: a iluminação interior que faz ver a história e as realidades que nos circundam com olhos novos, que nos purifica de todos os enganos em que caímos ao longo da nossa história pessoal. O cego de nascença personifica o processo da fé: é um caminhar na luz que se inicia a partir do nosso batismo (Ef 5,8-14). Em primeiro lugar, o homem relata os fatos acontecidos com ele. Logo, partindo desses fatos miraculosos, descobre que Jesus é o Profeta anunciado por Moisés e que Deus o escuta.

O cego é modelo de todos os crentes. A sua frase lavei-me e agora vejo evoca o batismo cristão que, na Igreja primitiva, era chamado de “iluminação”. Encontramo-nos diante do segundo escrutínio do rito batismal no qual se pedia aos catecúmenos professarem solenemente a fé antes de aproximar-se às águas para serem batizados: Crês no Filho do Homem? Creio, Senhor. O verbo “ver” se refere ao símbolo da fé, ou seja, consiste em aceitar e reconhecer que Jesus é o enviado do Pai.

A fé nos ilumina sobre o amor que Deus nos tem na nossa vida e nos liberta da cegueira do engano de demônio: “Deus não te ama”. Uma vez que o homem volta ao amor do Pai, as demais coisas recuperam o seu sabor, o seu sentido. Trata-se da nova criação: “Haja luz, e houve luz. Deus viu que a luz era boa, e Deus separou a luz e as trevas” (Gn 1,3-4). A fé nos leva a reconhecer, aceitar e proclamar que Jesus Cristo é nosso Senhor.

No entanto, este olhar com olhos de fé traz consigo no início da história da Igreja nascente o desprezo e a perseguição até o ponto de, os cristãos, serem expulsos e excomungados. Os inimigos de Jesus ficam às portas do Reino, já que se gabam de serem os destinatários da antiga aliança desprezando a salvação eterna e universal trazida por Cristo para todos os filhos de Adão. A fé, desse modo, também ilumina os passos da humanidade: o modo de agir dos cristãos no mundo é lâmpada que leva a Luz ao mundo.

Grande é a tentação que atinge a todos nós quando acreditamos que já sabemos tudo e, assim, perdemos a capacidade de surpreender-nos. Escorregamos desse modo caindo na incredulidade: “Um cego que recupera a vista? Que bobagem!” Na mentalidade da religiosidade natural, a desgraça ou o bem-estar da pessoa dependia da sua conduta moral. Por isso, a doença era considerada um mal porque era fruto do pecado da pessoa doente ou dos pecados dos seus antepassados. Todo o contrário a este Deus que ama sem acepção de pessoas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário